“Não podemos banhar-nos duas vezes no mesmo rio porque as águas nunca são as mesmas e nós nunca somos os mesmos”. O existir é um perpétuo mudar, um estar constantemente sendo e não-sendo, um devir perfeito; um constante fluir...

Se gosta seja amigo :) Namasté!

30 de setembro de 2009

Crossing Over and Coming Back

Este post não está aberto a comentários pelo seu conteúdo pessoal e é unicamente destinado a mim mesma...ou a uma determinada parte de mim.



Porque há dias assim...
Em que o murro no estômago é dado por nós...
Porque nos abrimos.
Porque acreditamos.
Porque esperamos.
Porque amamos...
Porque projectamos no outro aquilo que somos
porque esperamos que entenda e sinta como nós...
e porque ninguém nos compreende.
Como se fossemos outsiders
dentro de um mundo que não é o nosso
e tudo o que dizemos
não passam de palavras lançadas ao vento
Vento
Vento que nos arrebata o corpo e lança sobre um precipício sem fim
precipício que nada mais é que a nossa escuridão
inundada de imagens alucinatórias da vida
quadros
surrealistas?
Alguns. Muitos. Todos.
Palavras que não são compreendidas
mal interpretadas
facilmente desvirtuadas.
Sempre.
E eu sinto-me enlouquecer
porque falo
e ninguém percebe o que eu digo...
como uma outsider.
Sempre outsider.
Num mundo estranho, que não é o meu.
Rodeada de estranhos que falam uma língua estranha que me agride...
E tentam roubar-me os meus sonhos.
E tentam roubar-me a vontade.
E tentam roubar-me tudo o que não podem tirar-me.
E eu?
Vejo-me de fora como num sonho...
Estou de joelhos prostrada na terra queimada e devastada que sou eu.
Os braços arranhados e ensanguentados abraçam o corpo que treme em convulsão,
os olhos fechados e o rosto tenso...
há uma espada que jaz ao meu lado, de lamina azul celeste pulsante de vida...
e os olhos abrem-se, negros, vazios...cegos...
e as lágrimas vertem, ardem, queimam...lavram feridas fumegantes no que resta de mim...
e o grito nasce, cresce, alimenta-se e liberta-se...
Voa pela noite como um corvo de asas negras...asas negras como a minha alma endurecida.
E eu não posso fazer nada por mim. Vejo a dor traída daquele ser que sou eu, sinto-o no âmago das minhas entranhas que se revoltam e rebelam, impelindo-me a algo que não posso fazer.
Cresce. Cresce. Cresce criança.
Mas ela não me ouve, olha as estrelas com o brilho da traição de si a si mesma a bailar-lhe no rosto, numa dança macabra, os lábios murmuram palavras sem nexo e mesmo prostrada e devastada, o desafio brota dela como água cristalina brota de uma fonte sem poder ser travada...
Não.
Sorrio. As palavras são sussurradas, gritadas, cuspidas...têm o poder da intenção, do sentimento sem fim...
Ninguém vai mandar em mim nunca. Sou Senhora do meu destino aqui, como sempre o fui em cada etapa, em cada vida, em cada passo. Não. Desta vez Eu sei quem sou. Eu sei que é por aqui que quero ir...e vou até ao fim. E o joelho direito ergue-se e dobra-se enquanto os ombros se endireitam, e o peito enche-se do ar que alimenta lentamente a luz da Fénix nascente...a cabeça ergue-se desafiante, emoldurada por ondas de rebeldia incontida...
E os olhos...
Olho-a nos olhos...
Ela sou eu e eu sou ela.
Atingida a compreensão. Atingida a integração. Quero abraçá-la, confortá-la, dizer-lhe que a compreendo e que tudo faz parte do caminho.
Mas ela sorri, vejo-lhe o sorriso através do véu de lágrimas que lhe cobre o rosto. Há um movimento que me atrai o olhar... A mão direita toca o punho da espada e os dedos enlaçam-na como se ela fosse uma mera extensão de si mesma. Serpentes, vivas e ondulantes, de pura energia, entrelaçam-se e desenham um padrão sem inicio nem fim, intemporal, ancestral...A tudo assisto. Sustenho a respiração. O padrão ganha vida e galga-lhe a pele, as veias, todo o corpo, este e os outros...Incorpora-a e brilha fulgurante com a luz de mil relâmpagos azulados, dourados, de todas as cores fundidas em prismas que não existem aqui...ergue-se e sustem-se nos seus próprios pés...descalça...pernas afastadas, firmes, braços erguidos para o Universo...desafio, entrega, aceitação, redenção...posição de guerreira...nunca desistir. Nunca.
Olho-a nos olhos...e os olhos...são os meus olhos.



You said you'd be there for me
In times of trouble when I need you and I'm down
And like why do you need friendship
It's from my side pure love but I see lately things have been changing
You have goals to achieve
But the road you take abroad and heartless that wants you make another way
You throw stones
Can't you see that I am human I am breathing
But you don't give a damn

Chorus
Can't you feel my heart is beating
Can't you see the pain you're causing
Can't you feel my heart is beating
Can't you see the pain you're causing

Blood blood blood... keeps rushing

And now the world is asleep
How will you ever wake her up when she gets deep in the dreams, wishing
And yet so many die
And still we think that it is all about us
It's all about you
You sold your soul to the evil and the lust
And the passion and the money and you
And the same ones die, and people hunger for talking,
Suffer under civilized damn robbers but they stabled us

Chorus
Can't you feel my heart is beating
Can't you see the pain you're causing
Can't you feel my heart is beating
Can't you see the pain you're causing

Blood blood blood... keeps rushing

Invaded, eliminated, erased, interrogated
Our tradition, our love for our fellow countrymen,
Our property, our ancestors - have died

Can you feel, can you feel my heart beating?

Chorus
Can't you feel my heart is beating
Can't you see the pain you're causing
Can't you feel my heart is beating
Can't you see the pain you're causing

17 de setembro de 2009

O governo das sombras

Já por várias vezes me tinha deparado com esta expressão, o Governo das Sombras...é um tema que me deixa incomodada no sentido de não ter qualquer informação precisa, de não saber se acredito ou não...mas que por outro lado sinto ser algo real. Enfim, deixa-me numa penumbra ambigua que mais tarde ou mais cedo terei que desvendar.
Para reflectirmos, concordando ou não, pelas razões que forem as nossas e não as que nos impõem por vezes de forma subtil e dissimulada...

Este é o video 1 de 4, podem encontrá-los no Youtube :)



Originalmente postado por Claras Manhãs

15 de setembro de 2009

Karma visto por um céptico


As minhas pesquisas sobre o tema Karma continuam :) uma verdadeira pesquisa tem que ser antes de mais 100% imparcial.
Aqui fica mais uma perspectiva para discussão...algo polémica por ir contra o "espiritualmente correcto" (António, não resisti a "roubar-te" esta expressão lol)gostava de ter as vossas perspectivas.

Karma é uma lei do Hinduísmo que defende que qualquer acto, por mais insignificante, voltará ao individuo com igual impacto. Bom será devolvido com bom; mau com mau. Visto os Hindus acreditarem na reencarnação, o karma não conhece limites de vida/morte. Se o bem e o mal caem sobre si, se as pessoas se comportam de determinado modo consigo, isso deve-se ao que fez nesta ou numa vida passada.

Por um lado, o karma serve para explicar porque acontecem coisas boas a pessoas más e coisas más aos bons. A injustiça do mundo, a distribuição aparentemente ao acaso do bem e do mal é apenas aparente. Na verdade todos recebem o que merecem. Mesmo a criança brutalizada por adultos merece esse horror. Os atrasados mentais, os milhões de Judeus mortos pelos nazis, merecem-no pelo que fizeram no passado. O escravo espancado até à morte merece-o, não pelo que faz agora, mas pelo que fez numa vida passada. O mal é racional, de acordo com a lei do karma.

Apesar de não haver provas de karma e que essa crença não se baseia em mais que no desejo de que o mal deste mundo faça sentido, a ideia do karma é popular entre as culturas ocidentais onde se separou das suas raízes hindus. Os teósofos, por exemplo, acreditam no karma e na reencarnação. Também James Van Praagh, que afirma ser um condutor psíquico para os biliões de pessoas que morreram ao longo dos séculos.

Digamos que alguém mata outro... num multibanco... Podem ser duas coisa. A pessoa que cometeu o crime usou o seu livre arbítrio para o fazer. Ou, e isto pode parecer estranho, pode tratar-se de uma situação kármica em que a pessoa assassinada teve de pagar o ter morto alguém numa anterior incarnação.

Van Praagh deixa claro que pensa que é o karma, não o livre arbítrio, que leva as pessoas a matarem-se umas às outras. Se Van Praagh está certo, podemos desmantelar os nossos sistemas de ética e de justiça criminal. Ninguém é realmente bom ou mau. É apenas o nosso karma. Ninguém é realmente responsável por nada do que faz. Somo apenas peões karmicos dançando com o destino. Mas porque é que um principio amoral como o karma deve ser apresentado como explicando a injustiça máxima num universo indiferente? Porque, diz Van Praagh, "Estamos nesta Terra para aprender lições. Esta é a nossa escola primária... Devemos passar certas lições para crescermos." De acordo com Van Praagh, a vida na terra é uma vida no purgatório. Estamos a sofrer dos nossos pecados, a evoluir as almas. Estas são as mesmas razões que os teólogos dão para a existência do mal num mundo alegadamente criado por um Deus todo-poderoso e todo-bondade.

Puxando um pouco as afirmações, hindus, teosofistas e teólogos (os que tentam justificar os desígnios do Senhor) todos apelam ao "mistério" de tudo isto. Mas não há mistério no mal se reconhecemos que não há propósito na vida, não há vida depois da morte, não há recompensas no Céu nem punições no Inferno, não há Nirvana. Embora possa não haver sentido na vida, pode haver vidas com sentido. A crença no karma, contudo, não é essencial para uma vida com sentido. De facto, o karma parece tornar a vida trivial, uma mera "lei" metafisica que reduz os humanos a criaturas desumanizadas, desprovidas de moral e responsabilidade. O Karma não permite que o mal que cai sobre si possa ser imerecido. Isto é uma verdade que os fracos não conseguem olhar de frente. O Karma não permite que o bem que recebe possa ser merecido. Isto é uma verdade que os impotentes e desadequados conseguem olhar.

Como tal noção se tornou uma verdade essencial numa das grandes religiões? Como ganhou audiência fora da Índia? É uma lei para carneiros. Não nos admiremos que os pastores a defendam. É uma lei para passivos, para os que não perturbam o status quo, que aceitam qualquer mal como "natural" e inevitável. Karma é uma lei para escravos, para conquistados, e não foram os escravos que inventaram os dogmas religiosos. Os seus donos sabiam o que faziam. Aceitar o mal que lhes aconteça. ser bom, isto é, aceitar as ordens do dono e comportar-se de maneira ordeira. Que camponês pensaria que devia ter havido uma primeira vida sem vidas passadas? Como funcionava o karma nessa altura? Se não funcionava ou não era necessário então, porque era necessário para as outras vidas? Os mestres teriam as respostas. Teem sempre. São os donos da linguagem. Usando o poder das palavras podem reconciliar leis inexoráveis com liberdade. Podem fazer as contradições parecerem tautologia. E se os mestres não tivessem as respostas, podiam sempre calar os que se atreviam a perguntar o que não compreendiam. É um mistério e toda a gente gosta de mistérios! E se isso não funcionasse havia sempre a morte. Geralmente isso cala os dissidentes e os perturbadores.

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Links

"Karma" - Hinduism Today
"Karma," por Paul Edwards em The Encyclopedia of the Paranormal editado por Gordon Stein (Buffalo,
N.Y.: Prometheus Books, 1996).

14 de setembro de 2009

Livres!



Somos livres...
Podem limitar-nos os movimentos, podem toldar-nos a visão, podem aprisionarem-nos o corpo e chicotear-nos as convicções...mas nunca, nunca poderão acorrentar a nossa vontade, o nosso espírito, o sonho e a esperança...a Liberdade da alma.
Somos livres.
Porque sonhamos.
Porque acreditamos.
E é por sermos livres que lutamos. Que choramos. Que tentamos, caímos, e nos levantamos uma e outra vez...com força e esperança redobrada no sonho que nos comanda a alma...
Somos Livres. Somos a chama ardente do Universo encarnada na matéria. Não há motivos para medos ou receios...
Porque somos livres!

10 de setembro de 2009

Esforço, Karma, Frutas e Jardins



Esforço

Você deve fazer um grande esforço. Esqueça o passado e confie mais em Deus. Nosso destino não é predestinado por Ele; nem o karma é o único factor, apesar de nossas vidas serem afectadas pelos nossos pensamentos do passado e pelas nossas actividades do passado. Se você não está feliz com a maneira que a vida está se tornando, mude o padrão. Eu não gosto de ouvir pessoas atribuindo o fracasso do presente a erros do passado; fazer isto é preguiça espiritual. Ocupe-se e trate do jardim da sua vida.

Paramahansa Yogananda, "Máximas de Paramahansa Yogananda"

Não posso deixar de me maravilhar com a forma como o Universo sempre nos responde. Porque ele responde sempre. É automático. Contudo nós só recebemos a resposta se estivermos na mesma sintonia, se estivermos alertas e de coração aberto...a resposta vem sempre porque a resposta existe em si mesma, ela É. Ela já lá está, mesmo antes de nós formularmos a nossa questão.
É como uma fruta de uma árvore. Ela existe por si mesma, não é consequência da nossa fome. Não é por nós sentirmos fome que a fruta se materializa á nossa frente. Ela existe em determinada árvore, e tem um momento certo de amadurecimento para ser colhida e ser saboreada. Se a tentarmos "arrancar" á força da árvore antes da altura certa, só vamos causar dor á fruta, á árvore e ao nosso estomago... Se a deixarmos lá demasiado tempo, ela apodrece e morre, pois não foi devidamente aproveitada e apreciada.
Assim são as respostas às nossas questões. Existem independentemente de nós formularmos a questão, mas não é apenas por nós formularmos a questão que elas nos são dadas...por vezes é necessário aguardar o tempo do amadurecimento, e estar atentos para não a deixar apodrecer... e para tudo isto temos que estar acordados e alertas.
Ando ás voltas com o Karma...e com outras coisas que não se estão a encaixar e que me estão a suscitar dúvidas e questões profundas. Antes de integrar eu tenho que sentir. E tenho que entender. Porque eu acredito que somos extensões do Universo, porque eu sinto que somos Mestres de Luz a caminhar de regresso á Unidade, a casa, após a separação total - um processo plenamente aceite por todos nós e necessário. Mas acima de tudo, porque eu continuo a acreditar no AMOR INCONDICIONAL. Se calhar sou ingénua...Mas é o que eu sinto no meu coração. É o que o meu Eu Superior me transmite. Por isso vou continuar a tratar do meu Jardim, para que as frutas sejam doces e sumarentas e sempre colhidas na devida altura.



No Ensinamento Budista o Karma é:

"para todo evento que ocorre, um outro se seguirá, cuja existência foi causada pelo primeiro, e este segundo evento poderá ser agradável ou desagradável se a sua causa foi benfazeja ou não."
Um acontecimento benfazejo é aquele que não é acompanhado por cobiça, resistência ou ilusão, um acontecimento incorrecto é aquele que é acompanhado por uma dessas coisas.
Um evento não é correcto por si só, mas é chamado assim apenas em virtude dos processos mentais que acompanham.
Frequentemente visto como uma coisa negativa ou "má" o Karma pode ser também positivo e "bom".
O karma é um constante equilíbrio de forças entre nós mesmos e o mundo em que vivemos. É um sistema dinâmico, auto-ajustável no qual existe um feedback constante de acordo com a maneira como aceitamos ou recusamos as nossas experiências em cada momento. A nossa reacção e atitude diante da experiência é mais importante que a própria experiência.
Logo, a Lei do Karma diz que a responsabilidade pelas acções incorrectas nasce da pessoa que as comete. Não está condicionado à crença na reencarnação, mas é parte dessa doutrina. Não é preciso acreditar em vidas prévias para o aceitar.
Karma significa "acção". Literalmente, alguma coisa "que inicia um movimento " em algum tempo no passado, tem um efeito em algum outro tempo. Portanto o Karma pode surgir da nossa vida actual tanto quanto de uma outra passada. Os termos "bom karma" e "mau karma" são usados no Budismo não no sentido de "bem e mal", e sim num sentido de (kushala) inteligente, habilidoso, beneficente e (akushala) não inteligente, inábil e prejudicial. Assim as acções são beneficentes quando elas são benéficas para a própria pessoa e para os outros, e consequentemente são motivadas não pela ignorância, apego e aversão mas, por sabedoria, renúncia ou desapego, e amor e compaixão.
O karma é uma acção intencional, consciente, deliberada e voluntária.

Original AQUI

2 de setembro de 2009

VOA!

Há 2 anos que este dia era sonhado, acarinhado, desenhado e redesenhado...
2 anos de um árduo caminho, passos separados, vislumbres apenas, horas e minutos contados, sempre limitados.
E sempre a mesma afirmação tua, repleta do poder de quem quer algo com toda a força da inocência "mas eu quero ficar contigo mãe!", sempre a mesma resposta minha, repleta do poder de quem quer algo com toda a força do seu ser "nós vamos ficar juntas meu amor, está quase!"
E tu minha linda Fada sorriste-me sempre, com toda a confiança do Universo reflectida no brilho do teu olhar.
...e dia após dia, este dia foi-se materializando, os contornos foram tornando-se mais nitidos, os detalhes mais vibrantes...Magia pura...
2 anos.
Hoje filha...hoje é o dia que esperamos há 2 anos. Hoje é o dia que ambas sonhámos, desenhámos e redesenhámos vezes sem fim...
Finalmente estamos juntas fisicamente...porque sempre o estivemos em todas as outras dimensões, sempre o sentimos e sempre o soubemos.
O teu primeiro dia na tua primeira escolinha é também o primeiro dia do resto das nossas vidas!
Voa! Pela estrada da vida, pelo caminho que escolheres...VOA minha fada! Acredita sempre em ti, TU ÉS o poder e a magia da luz estelar na Terra!

1 de setembro de 2009

De regresso a Eri

Este post faz parte da blogagem colectiva com o tema 'Dormir aqui e amanhecer em outro lugar', do Blog Vou de Coletivo .


A brisa do mar acordou-a, envolvendo-lhe a alma adormecida e chamando-a de volta ao corpo que a aguardava.
Ao longe, um Sol carmim renascia trazendo consigo o som estridente de aves reluzentes que rasgavam os céus numa saudação á vida.
A luz daquele Sol penetrava avermelhada na neblina eterea que a rodeava, lançando chamas de novas cores sobre o mundo em que se encontrava.
Abriu os olhos lentamente, experimentando a sensação de ver pela primeira vez. Aos poucos as memorias foram poisando e encontrando o seu lugar, como peças de um puzzle que se encaixam naturalmente.
Deixou-se ficar ainda por momentos deitada sobre a Terra molhada da noite, sentindo o seu ritmo entranhar-se e energizar as suas células, forçando-as a entrar na corrente da vibração universal.
Olhou o seu corpo pela primeira vez e maravilhou-se com a cor azul eléctrica que a pele acetinada irradiava. As pequenas escamas brilhantes que a revestiam eram quentes aos toque. Os cabelos compridos eram de um branco puro e luminoso, e caiam soltos pelas costas em ondas revoltas de perfeição.
Estava nua. As suas longas pernas acabavam em patas largas de 4 dedos cobertos de tufos de penas também brancas, e maravilhada descobriu que tinha garras poderosas e afiadas.
Tentou levantar-se, mas em vez disso elevou-se e pairou sob o rasto gravado na terra fecunda pelo seu corpo. Foi só então que se apercebeu das asas que lhe rompiam as costas e que batiam agora suavemente. Por momentos atrapalhou-se sem saber como controlar os seus movimentos, mas rapidamente se apercebeu que seria o mesmo que movimentar um dos outros 4 membros.
Sorriu.
Tudo lhe pareceu natural.
Até as 4 Luas de cores e tamanhos diferentes que se mostravam esplendorosas no céu, como se irradiassem a sua própria luz e assim não pudessem ser apagadas pela luz estranha daquele Sol cujo carmim era agora ainda mais vivo.
Tentou vocalizar e assustou-se imediatamente com o chilreado que emitiu, num tom baixo mas muito nítido, com vibrações distintas e uma entoação sonante. Apercebeu-se instintivamente da complexidade daqueles sons, e que deveria ter cuidado na sua utilização pois correspondiam exactamente ao que pensava no momento. A palavra mentira aflorou-lhe a mente, mas não sabia de onde vinha nem o que significava e por isso esqueceu-a instantaneamente.
Sentia apenas uma enorme alegria por estar de volta e ansiava agora encontrar...encontrar quem? Não se lembrava. Mas sabia que tinha de ir... onde?
Abanou a cabeça perplexa com tudo aquilo.
Que mundo era aquele em que acordara?
Porque nada lhe parecia estranho?
E porque é que não conseguia recordar-se de praticamente nada que antecedesse aquele despertar?
Mirou-se naquele mar de águas negras, como se a sua imagem lhe pudesse devolver algo que perdera... e ao olhar-se nos olhos sem cor do seu reflexo, assustou-se e caiu...
Aterrou na cama, erguendo-se de imediato e acendeu a luz...tocou-se a medo e descobriu-se humana...as lágrimas incendiaram-lhe os olhos inundados de uma súbita saudade...sonhara...