“Não podemos banhar-nos duas vezes no mesmo rio porque as águas nunca são as mesmas e nós nunca somos os mesmos”. O existir é um perpétuo mudar, um estar constantemente sendo e não-sendo, um devir perfeito; um constante fluir...

Se gosta seja amigo :) Namasté!

29 de maio de 2008

MÃE ESTELAR

I cry out with no reply

and I can't feel You by my side

So I'll hold tight to what I know

You're here and I'm never alone.

And though I cannot see You

And I can't explain why

Such a deep, deep reassurance

You've placed in my life

We cannot separate

Cause You're part of me

And though You're invisible

I'll trust the unseen


Sabem quando olham á vossa volta e se sentem ... aliens?
Verdadeiros outcasts entre os vossos pares? Familia, amigos...
Como se, embora agindo nesta realidade, pertencessem a outra dimensão completamente diferente?
Conhecem a sensação de serem os únicos a verem determinadas coisas?
Como se na sombra de cada gesto o gesto real se desenhasse invisível ao olhar mortal?
A ouvirem o que não é dito? Sons murmurados no eco de cada som perfeitamente proferido por lábios cerrados?
Sensação estranha esta...e contudo reconfortante pela sua já longa familiaridade.
A única coisa que mudou foi a aceitação...imaginem uma câmera de filmar que em apenas segundos percorre todos os ângulos possíveis e perspectivas inimagináveis e quando para, abrupta, é a vocês que foca. Fria e cruelmente. Uma imagem onde tudo é revelado na vertigem do movimento interrompido.
Uma vida inteira a lutar para ser igual (e pergunto-me...igual a quê?), quando na verdade tenho que aceitar e viver com a diferença que faz de mim o que eu sou, Anjo ou Demónio? Bela ou Monstro? Detentora das chaves ou Eterna perdida? Guerreira ou Covarde? Algures entre as imagens reflectidas desta casa de espelhos retorcidos, "the truth awaits"...a verdade aguarda ser resgatada.
Encontro os seus pedaços e tomo-os como meus que sempre foram. Sem os possuir integro-os e deles me visto enquanto as roupas tão usadas caiem e se desvanecem na bruma do passado marcado a cada batida do coração dorido mas ainda flamejante de vermelho imaculado.
Por vezes só me apetece fugir...mas depois penso...para onde?
Para onde fugiria eu?
E é como se a minha alma abarcasse todo o planeta sem nele encontrar o local onde poderia finalmente fechar os olhos e repousar.
E depois recordo-me...imagens flashadas em paredes negras que se cobrem do branco salgado das lágrimas que não verto, como cera derretida de velas há muito consumidas.
Uma vozinha infantil brota da chuva onde mal consigo vislumbrar o meu Eu reflectido.
"Quero ir para casa mamã...já chega."
E a dor atinge aquela que sou Eu aqui, e quase aposto que do outro lado do véu a minha essência se encolhe subitamente tomada pela angustia que lhe grito neste devastador silêncio nocturno.
E como mãe atenciosa que é, Ela, a minha Mãe de sempre e para sempre, lá me vai afagando a face e explicando olhos nos olhos que ainda não chegou a altura e que eu tenho que me comportar como uma menina crescida, forte e ser muito corajosa. Para não ter medo, pois caia as vezes que cair, ela dar-me-á sempre a mão...mesmo que eu não a veja...para seguir o meu caminho pois Ela terá sempre muito orgulho em mim.
Ao tocar a minha face adulta sinto-a molhada daquelas lágrimas que vejo brotarem dos olhos negros daquela criança impetuosa e contudo tão insegura que já fui eu.
E recordo-me de ouvir aquelas palavras tantas vezes ditas pela minha Mãe, fluírem dos meus lábios para abraçarem a minha própria filha dando-lhe as armas contudentes para desbravar os primeiros metros do seu trilho neste mundo enredado em lianas de escuridão aqui e ali rasgada pela luz cintilante dos seres de Luz que teimam em não debandar.
Á laia de despedida, o Seu sorriso estelar, cheio de brilho e de luz..."todos te aguardamos com muita saudade...todos seguimos atentamente as tuas aventuras e desventuras...rimos e choramos contigo. Nunca penses que estás só, nem por um segundo, nem por todo o tempo desse teu mundo."

Sim...eu sei que não estou só. Mas tenho saudades Tuas, e embora Tu me vejas..os meus olhos cegaram quando nasci aqui Mãe. Mas por muito cansada que me sinta sei que é a tua força que diariamente me ajuda a continuar. Passo a passo. Cada vez mais firme. No meu caminho.

PS. Este texto surgiu de fragmentos sentidos recentemente e que calei pois na altura não tinha tempo para senti-los verdadeiramente. Reunião familiar e reencontros com alguns amigos com os quais já não há muita ligação. Nasceu de uma noite de insónia e materializou-se hoje. Surpreendeu-me no seu desenvolvimento e quem sou eu para apagar o que assim se vai escrevendo?

6 comentários:

Amaral disse...

É um prazer visitar um sítio especial.
Escreves e sentes o que escreves!
Numa noite de insónia, após um dia árduo ou perante a contemplação de algo inexplicável.
Quando enxugas a face molhada de lágrimas, destapas uma nuvem sombria. Já não tens medos a apoquentarem, apenas a mão amiga duma mãe atenciosa.
E, de mãe para filha, o mesmo gesto e o mesmo abraço...

Obrigado, amigos todos, pelas palavras que me deixaram naquela centena de visitas.
Bem-hajam! Vamos dar as mãos... e sorrir à Vida!

inespimentel disse...

Ai ERidanis, tanta sabedoria, tanta Fé.
Este texto é escrito por uma alma velha não há dúvida, e eu revejo-me nele e parece-me qua a minha solidão se posiciona e relativiza, é alimento para o meu espírito.
Mais uma vez dou por mim a pensar no 12º signo do Zodiaco

GilleArjomanBand disse...

"Sabem quando olham á vossa volta e se sentem ... aliens?
Verdadeiros outcasts entre os vossos pares? Familia, amigos...
Como se, embora agindo nesta realidade, pertencessem a outra dimensão completamente diferente?"

...e se houvesse uma camera a filmar, veriamos uma expressão do olhar, muito própria, muito descritiva. Essa é a altura em que me levanto e me vou embora. Até os sons são estranhos, até as palavras são non-sense...

Bem apanhado, Siala !

Anônimo disse...

Deixa-me ver se entendo...

Saudades de casa?
Porque será que os farois que impedem os barcos de ir de encontro às rochas, e alumiam a escuridão se sentem sempre tão sós? Porque será que têm de ser constantemente fustigados pelo vento e pelo mar?
Saudades de casa?

Adorei...
Um abraço de luz.

eudesaltosaltos disse...

amei le-te neste pureza clara de sentires... n t escondeste nas palavras, foste tu e as tuas magoas, ausencias, saudades, memorias... gosto. (dcp a ausencia, n tnh tido tempo, o meu proprio blog tem txts agendados,qd tnh 5mins de tempo... dcp) bj

inespimentel disse...

Voltei para reler estas palavras, elas relembram-me que não posso desistir, mesmo que quisesse... às vezes a solidão e a tristeza instalam-se e ali ficamos encolhidas, num cantinho escuro, dentro de nós, parecendo que esse momente se vai estender até à eternidade...