“Não podemos banhar-nos duas vezes no mesmo rio porque as águas nunca são as mesmas e nós nunca somos os mesmos”. O existir é um perpétuo mudar, um estar constantemente sendo e não-sendo, um devir perfeito; um constante fluir...

Se gosta seja amigo :) Namasté!

8 de fevereiro de 2008

O medo da morte



Falar da Morte é para muitos algo soturno...mórbido.
Pergunto-me como será que essas pessoas falam da vida? Ou como a vivem? Sem aceitarem a morte haverá Vida? Ou haverá apenas um longo e tortuoso caminho em que se foge do evidente?
Eu não sei, mas tenho curiosidade. Porque para mim a morte sempre esteve presente na minha vida. Como todos os opostos...existem por uma razão superior que nem sempre apreendemos. Mas está ao nosso alcance. E é simples. Se existe é porque tem que existir. Se tem que existir e me transcende...é porque tenho que aceitar.
A morte é a outra face da vida.
Ambas faces da mesma moeda, uma moeda que nos foi dada como um tesouro. É sem dúvida o nosso maior tesouro. Agora pergunto-me eu...como conseguem usar uma moeda, utilizando apenas uma das suas faces? Tocando apenas uma delas? Olhando apenas uma delas?

Imaginem...
fechem os olhos, respirem...
inspirem e expirem até sentirem o vosso coração acalmar num ritmo melodicamente sereno...
Imaginem...
E se?
E se amanhã já não estiverem cá?
E se tiverem que partir subitamente para essa viagem sem regresso marcado?
Amaram o suficiente?
Sorriram muito?
Viveram cada momento como uma dádiva preciosa e única?
Telefonaram àquela pessoa de quem se têm lembrado mas que há muito nada sabem dela?
Abraçaram aquele amigo?
Beijaram o vosso filho?
Alimentaram a paixão que partilham com o outro?
Ou gritaram e enervaram-se porque o puto se atrasou - valeu a pena? o atraso eclipsou-se?
Ou adiaram o telefonema porque fica para amanhã?
Ou não abraçaram porque o local não era adequado?
Ou perderam-se em questõezinhas menores...o tampo da sanita que fica sempre para cima, aquela camisa que não está passada a ferro, o tubo da pasta de dentes que fica aberto, o barulho irritante dos saltos altos logo de manhã...
Ou entraram no café e nem o bom dia disseram?
Sorriram ao Duarte da portagem? Á Dª Maria da limpeza? Ao Manel porteiro? Ou nem os viram?
Repararam naquela pequenita flor amarela que se atreveu a irromper entre as pedras frias da calçada, gritando em todo o seu esplendor "Eu Sou"?
E se amanhã...tu não estiveres cá?
E se amanhã a outra pessoa não estiver cá?
Porque se toma a dádiva da vida física como certa e sempre presente, como se fosse para sempre?
Será porque se vive a vida com medo da morte?
E por causa desse medo, não se aceita a morte.
E por não se aceitar a morte, foge-se dela.
E a melhor fuga é ignorá-la, desprezar a sua existência, a sua certeza, a sua evidência.
Porque tememos o desconhecido...matamos a morte nas nossas vidas.
Então vivemos como se fosse banal estarmos vivos.
Como se amanhã todos estivéssemos vivos fisicamente. Sempre.
Estar vivo é uma dádiva.
Sei que posso partir a qualquer momento.
Sei que quem eu amo pode ter que partir também.
Os meus pais vão partir um dia. Eu não os posso impedir.
De nada me vale ter medo. De nada me vale viver a vida com esse medo. A morte estará lá, sempre. Por muito medo que tenha, ela não desaparece.
Quando comprámos o bilhete para aqui virmos fisicamente, na bilheteira informaram-nos que só havia bilhetes de ida e volta. Lembram-se?
Medo do quê?? De regressar?
Então, este tesouro que me foi dado, esta dádiva que é o presente, a minha vida, tem que ser vivido intensamente como um momento mágico e único que não se repetirá jamais.
E quando eu regressar, não quero levar bagagem. Apenas uma alma realizada. Mais completa. Mais brilhante.
Quero olhar para trás e saber que dei todo o amor que tinha para dar, distribui todos os sorrisos que pairavam nos meus lábios. Os meus braços não estarão pesados com os abraços que não dei, estarão leves como asas.
Os meus olhos brilhantes de criança terão absorvido todas as belezas únicas do dia a dia, as rotinas terão sido desempenhadas com todo o meu carinho e paciência, e o amor pelo meu companheiro terá sido sempre alimentado com paixão, com ardor, com vibração e sintonia...os meus filhos terão sido educados com toda a sabedoria que em mim residia...sei que por onde passei algum impacto causei, sei que fiz a diferença para alguém, sei que a luz que recebi não a guardei, partilhei-a e ao partilhá-la ela cresceu.
É assim que eu quero fazer a minha viagem de regresso a casa. Alegre e leve. Plena e realizada. E vocês? Querem ir assim ou vão carregados com as bagagens que trouxeram quando vieram? Não as usaram???

Respirem fundo. Abram os olhos. Sim...estão cá. Por enquanto...
Estejam cá plenamente...
Vivam a vida. Sem medo da morte.

Bom fim de semana amigos :)

7 comentários:

Paulo Vilmar disse...

Oi!
Como quase não tenho crenças, penso na vida de forma igual a que penso na morte. Não preocupo-me com a morte! Mas, este teu texto fez-me pensar diferente, acabei por vivenciar o dito "viva cada dia como se fosse o último"! Quanta coisa falta alcançar, destas pequenas, do dia a dia. Adorei teu Blog, voltarei!
Beijos.

MIMO-TE disse...

Ainda bem que há quem faça a diferênça! Tu fazes, que bom! :)))

Excelente, é isso mesmo viver consciênte...

Bjo
Mimo-te

Magnolia disse...

Agradeço-te pela visita ao Edificio Magnolia. Agradeço-te os comentários. Certamente os inquilinos terão também muito gosto em visitar um blog esotérico. Afinal, também falta muito espirito zen no Edificio :)

beijinhos para a Mulher, nem mais, nem menos.

Amaral disse...

Soberbo, Siala!!!
Gostaria de saber escrever assim, para poder sobrepôr nas tuas palavras outras palavras iguais!
Vivamos a vida, sim!!!
Porque só ela existe e quando esta "morrer" será para renascermos em algum lugar, nalgum outro tempo ou a um nível de conciência.
Neste mundo físico, tememos a "morte", assim como tememos o desconhecido. Mas é aqui que nos foi dada a oportunidade de vivenciarmos aquilo que somos.
Se o fizermos plenamente e em consciência, teremos cumprido a missão a que nos propuzemos!
Adorei esta tua explanação, porque me revejo em todas estas linhas!
Sem medo da morte, um bom fim de semana, Siala!!!

Anônimo disse...

não consegui evitar um arrepio ao ler-te! soberbo!

Som do Silêncio disse...

Olá!
Já te disse e volto a dizer...
screves deliciosamente bem, e eu adoro ler-te :)

Beijo terno

Cristina Paulo disse...

Paulo, obrigada pela visita. É isso mesmo, há um sentido muito real nesses ditados populares que normalmente está oculto pelos entido mais populista. Viver cada dia como se fosse o último nada tem a ver com excessos e exageros, mas sim em aproveitar e disfrutar ao máximo, com consciência :)

Mimo-te, todos fazemos a diferença :) Mas tu especialmente por seres assim, esse mimo de pessoa linda que és.

Magnolia, obrigada pela visita :) Para mim espiritualidade e sensualidade andam de mãos dadas, ambas são alegria pura. Brevemente vou escrever um texto sobre isso mesmo. Neste cantinho também há lugar para muito amor e erotismo, mas mais soft de que no edificio Magnolia lol

Amaral, eu é que gostava de escrever como tu tão bem sabes. É uma honra ter-te por cá. E mais palavras para quê? Deixas-me a modos que emocionada.

Noivo, são uns arrepios diferentes não é? Mas também muito necessários...

Som, e eu adoro-te ler a ti :)