“Não podemos banhar-nos duas vezes no mesmo rio porque as águas nunca são as mesmas e nós nunca somos os mesmos”. O existir é um perpétuo mudar, um estar constantemente sendo e não-sendo, um devir perfeito; um constante fluir...

Se gosta seja amigo :) Namasté!

16 de julho de 2008

O Homem Santo

A criança continuou a sua jornada por aquela Terra estranha, que ela pensava conhecer mas que afinal a deslumbrava e surpreendia a cada passo que dava, a cada curva do caminho que descobria.
Depois do seu encontro com o Cavaleiro sem olhos, haviam-se criado as fundações de onde poderia construir a sua vida interior e o seu futuro solidamente...mas ao afastar-se no tempo e no espaço daquela última aparição, o seu coração foi atingido por um medo súbito...e se tudo voltasse a falhar? E se todo este árduo trabalho fosse em vão como sempre tudo o que fizera na sua vida? E se se tratasse de uma ilusão? Ou e se não fosse suficientemente boa, merecedora, se não estivesse á altura?
Este era um pensamento recorrente que a atormentava. Siala, a criança, caminhava agora angustiada sentindo-se perdida e dividida entre a segurança de se saber correcta e saber o seu próprio valor, e a insegurança de não saber se isso não passaria também de mais uma ilusão, um engodo lançado por ela mesma a si mesma e que não lhe permitia ver-se na insignificância que ela mesma era...
Ao olhar para o topo de uma pequena colina, viu um lugar que pela luz emanada só poderia ser um lugar sagrado. Lá encontrou um homem sábio, justo e bom, um Homem Santo. Junto dele encontravam-se alguns acólitos que se afastaram deixando Siala passar.

"Mestre, pois a tua luz não engana quem vê com o coração...sinto medo e não sei como livrar-me dele..." e a criança contou então ao Mestre todo o seu percurso e os seus medos.

O Homem Sábio sorriu-lhe, tocou-lhe o coração e o ponto entre os dois olhos e respondeu com uma voz grave e quente, firme mas doce:

"Só existem duas maneiras, criança, ou desistes daquilo que tens medo de perder, de forma a que não mais detenha qualquer poder sobre ti; ou consideras aquilo que ainda poderás ter quando o teu medo passar...independentemente do resultado. Afinal de contas, mesmo que viesses a perder tudo o que reconstruíste novamente após tanto sofrimento e dor, continuarias a possuir a experiência e aprendizagem reunidas até esse ponto, correcto? Essas ninguém poderá tirar-tas nunca...e são essas posses que te poderão permitir sempre um novo recomeço...por isso pergunto-te...que temes tu Siala?"

Esta resposta pragmática e surpreendente libertou a criança do seu medo mais profundo, companheiro de muitos anos e provocador de muitas situações desagradáveis na sua vida, e Siala saiu do santuário sentindo-se em condições de enfrentar o Mundo e os seus desafios novamente.
Ao retomar o seu caminho, na sua mente vibrou por uma última vez a voz grave e amistosa do Hierophant

"Tu sabes resolver os teus problemas. Não é fácil, pode não ser rápido, mas é perfeitamente fazível. A solução está ao teu alcance, apenas tens que a puxar do plano superior para o teu plano de acção. Trazê-la de cima para a Terra!"

Com estas palavras a revigorarem as suas forças, Siala proseguiu de cabeça erguida...sem medos.

Axioma: “De ouvido te havia escutado, mas agora meus olhos te vêem e o meu coração te sente...”





Um comentário:

segredo disse...

Por vezes o medo não nos deixa atravessar para o outro lado mesmo que do outro lado estejam os nossos sonhos, mas quando conseguimos ultrapassar o medo mesmo que se falhe ha uma aprendizagem que vale a pena;)
Beijinho