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Monet - Irises in Monet's Garden- 28/10
Este post é parte da Blogagem Colectiva do Café com Bolo da Glorinha!
O tempo fugia-lhe sem que ela o conseguisse agarrar. Estava presa. Irremediavelmente presa ao ecrã do portátil que lhe feria a vista já de tão cansada. Mas não podia parar. O tempo corria contra ela mas esta era uma corrida que ela conhecia bem, todos os anos era assim, e todos os anos ela se excedia dando o seu melhor, roubando tempo que não tinha á sua familia, a si mesma, aos seus animais, a tudo e todos, colocando tudo em segundo plano para poder acabar o Ano Fiscal com nota dez.
Não sabia porque o fazia. Sempre fora assim. Trabalhava naquela empresa há 13 anos...não era o trabalho que a preenchia como Ser Humano, e ultimamente esse facto agudizara-se e até a deixava doente e sem forças. Não era o ordenado congelado há 3 anos pela "crise" que só toca aos que já quase nada têm, nem as compensações que tardavam sempre. Ela era assim. Ligava o turbo e só descansava quando tudo estava feito, em ordem, sem qualquer ponta solta...O ascendente Virgem impunha-se sempre ao signo Peixes, nesta fase. O problema era que nos restantes meses do ano ela sentia que era o Peixes que levava a melhor sobre Virgem, ajudando a que a fase final fosse sempre ainda mais complicada do que o necessário.
Sorriu. Em 13 anos fora a primeira vez que percebera este simples facto. E foi a primeira vez que não desperdiçou energias preciosas a maldizer a sua sorte, a queixar-se, ou simplesmente a sentir-se miserável. Suspirou agradecida pelo ano deveras complicado que estava a ter, mas que a obrigara a fazer o mind shift exigido pelo Universo há tanto tempo!
Ergueu os olhos do computador para a imagem que imprimira ontem e afixara no biombo azul que a protegia do resto do mundo que ainda hoje não compreendia lá muito bem. Deixou-se energizar pela suavidade das pinceladas irreais, pela cor violeta, lilás, rosa, verde...o aroma dos campos da sua infância embriagou-lhe os sentidos. Fechou os olhos e permitiu-se um minuto de deleite, sentindo a erva fresca sobre os pés descalços, a brisa acariciando a face...o zumbido das abelhas atarefadas e o chilrear dos pássaros que saltitavam aqui e ali em busca de alimento embalaram-lhe a alma e massajaram-lhe os músculos doridos da tensão. Inspirou bem fundo o aroma da liberdade e guardou no coração a beleza pura que só um jardim encantado pode oferecer. Voltaria mais tarde, para mais uma fuga rápida e intensa ao stress da realidade. Agora o trabalho chamava e ela já não franzia o sobreolho, antes sorria confiante em si mesma e nas suas capacidades...pronta para mais uma batalha!